NOTA DO BLOG: interessantíssimo posicionamento de Wesley com relação a graça, que atualmente (e infelizmente) tem sido deturpada para dar lugar a uma teologia mais carnal.
“Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou
por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?” Rm
8.32
1. Quão livremente Deus ama o mundo! Quando éramos ainda
pecadores, “Cristo morreu pelos ímpios.” Quando estávamos “mortos em nossos
pecados,” Deus “nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por
todos nós.” E quão livremente com ele, ele “dá todas as coisas!”
Verdadeiramente, a GRAÇA LIVRE é tudo em todos!
2. A graça ou amor de Deus, a fonte de nossa salvação, é LIVRE
EM TODOS, e LIVRE PARA TODOS.
3. Primeiro. É livre EM TODOS a quem é dada. Não depende de
qualquer poder ou mérito no homem; não, não em qualquer medida, nem no todo,
nem em parte. Não depende de qualquer forma das boas obras ou da justiça do
recebedor, nem de qualquer coisa que ele tenha feito, ou de qualquer coisa que
ele é. Não depende de seus esforços. Não depende de sua boa disposição, ou bons
desejos, ou bons propósitos e intenções; pois todas estas coisas fluem da livre
graça de Deus; elas são apenas as correntes, não a fonte. Elas são os frutos da
livre graça, e não a raiz. Elas não são a causa, mas os efeitos dela. Tudo de bom
que esteja no homem, ou que seja feito pelo homem, Deus é o seu autor e doador.
Dessa maneira é sua graça livre em todos; isto é, de nenhum modo dependendo de
qualquer poder ou mérito no homem, mas em Deus somente, que livremente nos
entregou seu próprio Filho, e “com ele livremente nos dá todas as coisas.”
4. Mas é livre PARA TODOS, assim como EM TODOS. A isto alguns
têm respondido, “Não: É livre somente para aqueles que Deus ordenou para a vida
eterna; e eles são apenas em pequeno número. A maior parte Deus ordenou à morte
eterna; e não é livre para eles. A esses Deus odeia; e, por isso, antes deles
nascerem, decretou que eles devessem morrer eternamente. E isto ele
absolutamente decretou; pois assim era seu beneplácito; pois era sua vontade
soberana. Conseqüentemente, eles são nascidos para isto, – para ser destruídos
corpo e alma no inferno. E eles crescem debaixo da irrevogável maldição de
Deus, sem qualquer possibilidade de redenção; quanto à graça que Deus dá, ele
dá somente para isto, para aumentar, e não impedir, sua condenação.”
5. Este é aquele decreto da predestinação. Mas, me parece,
escuto alguém dizer, “Esta não é a predestinação que eu creio: Creio somente na
eleição da graça. O que creio não é mais do que isto, – que Deus, antes da
fundação do mundo, elegeu um certo número de homens para ser justificados,
santificados, e glorificados. Agora, todos estes serão salvos, e ninguém mais;
pois o resto da humanidade Deus deixa a si mesmos: Assim eles seguem as
imaginações de seus próprios corações, que são apenas maus continuamente, e,
tornando cada vez piores, são finalmente punidos com justiça com a destruição
eterna.”
6. Esta é toda a predestinação que você crê? Pense mais um
pouco; talvez não seja tudo. Você não crê que Deus os ordenou exatamente para
isto? Se sim, você crê nisto; você afirma a predestinação no completo sentido
que foi descrito acima. Mas pode ser que você ache que não. Você, então, não
crê que Deus endurece os corações daqueles que perecem: Você não crê que ele
(literalmente) endureceu o coração de Faraó; e que para este propósito ele o
levantou, ou o criou? Ora, isto dá no mesmo. Se você acredita que Faraó, ou
qualquer outra pessoa sobre a terra, foi criado para este fim, – ser condenado,
– você afirma tudo o que foi dito a respeito da predestinação. E não há
necessidade de você acrescentar que Deus suporta a condição dele, suposta ser
inalterável e irresistível, ao endurecer os corações daqueles vasos da ira que
esse decreto anteriormente os preparou para destruição.
7. Bem, mas pode ser que você não crê nem mesmo nisto; você não
afirma nenhum grau de reprovação; você não acredita que Deus decreta que alguém
seja condenado, nem que Ele endurece, nem que Ele irresistivelmente prepara-o,
para a perdição; você somente diz, “Deus eternamente decretou que, todos
estando mortos em pecados, ele diria a alguns dos ossos secos, Vivam, e a
outros ele não diria; que, conseqüentemente, estes devem ser ressuscitados, e
aqueles permanecer mortos, – estes glorificarão a Deus por sua salvação, e
aqueles, por sua destruição.”
8. Não é isto o que você quer dizer pela eleição da graça? Se
for, eu farei uma ou duas perguntas: Alguém que não é eleito é salvo? Ou alguém
foi salvo, desde a fundação do mundo? É possível que alguém seja salvo se não
for eleito? Se você disser, “Não,” você não saiu do lugar; você não andou um
milímetro; você ainda crê que, em conseqüência de um decreto imutável e
irresistível de Deus, a maior parte da humanidade permanece morta, sem qualquer
possibilidade de redenção; visto que ninguém pode salvá-los senão Deus, e ele
não irá salvá-los. Você crê que ele absolutamente decretou não salvá-los; o que
é isto senão decretar condená-los? É, de fato, nem mais nem menos; isto dá no
mesmo; pois se você está morto, e completamente incapaz de ressuscitar a si
mesmo, então, se Deus absolutamente decretou que ele ressuscitará somente os
outros, e não você, ele absolutamente decretou sua morte eterna; você está
absolutamente destinado à condenação. Então, embora você use palavras mais suaves
do que alguns, você quer dizer a mesma coisa; e o decreto de Deus relativo à
eleição da graça, de acordo com o seu relato, corresponde, nem mais nem menos,
ao que outros chamam o decreto da reprovação de Deus.
9. Chame-o pelo nome que quiser, eleição, preterição,
predestinação, ou reprovação, dá tudo no mesmo. O sentido de tudo é claramente
isto, – em virtude de um eterno, imutável, irresistível decreto de Deus, uma
parte da humanidade é infalivelmente salva, e o restante infalivelmente
condenado; sendo impossível que alguns dos primeiros sejam condenados, ou que
alguns dos últimos sejam salvos.
10. Mas se for assim, então toda pregação é vã. É inútil para
aqueles que são eleitos; pois eles, com pregação ou sem, irão infalivelmente
ser salvos. Por isso, o fim da pregação – salvar – é vão em relação a eles; e é
inútil para aqueles que não são eleitos, pois eles não podem possivelmente ser
salvos: Eles, com pregação ou não, serão infalivelmente condenados. O fim da
pregação é, por essa razão, vão em relação a eles, da mesma forma; de modo que
em qualquer caso nossa pregação é vã, como ouvi-la também é vão.
11. Isto, então, é uma clara prova de que a doutrina da
predestinação não é uma doutrina de Deus, pois torna vã a ordenação de Deus; e
Deus não está dividido contra si mesmo. Uma Segunda é, que ela diretamente
tende a destruir a santidade, que é o fim de todas as ordenanças de Deus. Eu
não estou dizendo que ninguém que a defende não é santo; (pois Deus é de afável
misericórdia com aqueles que estão inevitavelmente envolvidos em erros de
qualquer espécie;) mas que a própria doutrina, – que todo homem, ou é eleito ou
não é eleito desde a eternidade, e que um deve inevitavelmente ser salvo, e o
outro inevitavelmente condenado, – tem uma tendência manifesta para destruir a
santidade em geral; pois ela completamente elimina aqueles primeiros motivos
para segui-la, tão freqüentemente propostos nas Escrituras, a esperança da
recompensa futura e o medo da punição, a esperança do céu e o medo do inferno.
Que estes irão para a punição eterna, e aqueles para a vida eterna, não é
motivo para se esforçar pelo resto de sua vida aquele que crê que seu destino
já está lançado; não é razoável a ele assim fazer, se ele pensa que está
inalteravelmente ordenado para a vida ou para a morte. Você dirá, “Mas ele não
sabe se é a vida ou a morte.” Quê! – isto não ajuda a questão; pois se um
doente sabe que deve inevitavelmente morrer, ou inevitavelmente se recuperar,
embora ele não saiba qual, é irracional ele tomar qualquer remédio. Ele poderia
justamente dizer, (e assim escuto alguns falarem, tanto em doença física quanto
espiritual,) “Se estou ordenado à vida, vou viver; se à morte, vou morrer;
então eu não preciso me preocupar com isto.” Então, diretamente esta doutrina
tende a fechar a própria porta da santidade, – a impedir homens não santos de
aproximar dela, ou buscar entrar nela.
12. Assim como diretamente esta doutrina tende a destruir vários
outros ramos da santidade. Tais como a humildade e o amor, – amor, eu quero
dizer, de nossos inimigos, – dos maus e ingratos. Eu não estou dizendo que
ninguém que a defende não tem humildade nem amor; (pois como é o poder de Deus,
é sua misericórdia;) mas que ela naturalmente tende a inspirar, ou aumentar,
uma impetuosidade ou impaciência de temperamento, que é totalmente contrária à
humildade de Cristo; como então especialmente aparece, quando são contrariados
neste assunto. E isto naturalmente inspira desprezo ou indiferença em relação
àqueles que supomos serem rejeitados de Deus. “Ó, mas,” você diz, “Eu não
suponho que ninguém seja um reprovado.” Você quer dizer que você não suporia se
pudesse evitar: Mas você não pode deixar de algumas vezes aplicar sua doutrina
geral a pessoas em particular: O inimigo das almas a aplicará por você. Você sabe
o quão freqüentemente ele tem feito assim. Mas você rejeitou o pensamento com
repugnância. Verdade; tão logo pôde; mas como exacerbou e estimulou seu
espírito nessa hora! Você bem sabe que não foi o espírito de amor que depois
sentiu por aquele pobre pecador, que você supôs ou suspeitou, querendo ou não,
ter sido odiado de Deus desde a eternidade.
13. Em terceiro lugar. Esta doutrina tende a destruir o conforto
da religião, a alegria do Cristianismo. Isto é evidente quanto àqueles que
crêem que sejam reprovados, ou que somente suspeitam ou temem. Todas as grandes
e preciosas promessas são perdidas para eles; elas não lhes proporcionam nenhum
raio de conforto: Pois eles não são os eleitos de Deus; por isso eles não têm
nenhuma parte nem porção nelas. Esta é uma barreira eficaz para que eles
encontrem algum conforto ou felicidade, mesmo na religião cujos caminhos são
objetivados ser “caminhos de delícias, e todas as suas veredas de paz.”
14. E quanto a vocês que crêem
que são os eleitos de Deus, qual é sua felicidade? Espero, não uma noção, uma
crença especulativa, uma mera opinião de qualquer espécie; mas uma posse
ardente de Deus em seu coração, trabalhada em você pelo Espírito Santo, ou, o
testemunho do Espírito de Deus com o seu espírito que você é um filho de Deus.
Isto, de outra forma chamado “uma inteira certeza de fé,” é o verdadeiro
fundamento da felicidade de um cristão. E isto de fato implica numa inteira
certeza de que todos os seus pecados passados são perdoados, e que você agora é um filho de Deus. Mas isto não
necessariamente implica numa inteira certeza de nossa futura perseverança. Eu
não estou dizendo que esta nunca é ligada àquela, mas que não é necessariamente
implicado nela; pois muitos têm uma que não têm a outra.
15. Agora, este testemunho da experiência do Espírito demonstra
ser muito obstruído por esta doutrina, e não somente naqueles que, crendo que
sejam reprovados, por esta crença lançam-na para longe deles, mas até naqueles
que têm experimentado dessa boa dádiva, que todavia a perderam novamente, e
caíram de volta na dúvida, e temores, e escuridão, – escuridão horrível, que
poderia ser sentida! E eu apelo a qualquer um de vocês que crêem nesta
doutrina, dizer, entre Deus e seus próprios corações, se têm freqüentemente
voltado dúvidas e temores sobre sua eleição ou perseverança! Se perguntarem,
“Quem não tem?” Eu respondo, Muito pouco daqueles que crêem nesta doutrina; mas
muitos, muitos mesmos, daqueles que não crêem nela, em todas as partes da
terra; – muitos destes têm desfrutado o ininterrupto testemunho de seu
Espírito, a luz contínua de sua duração, do momento em que primeiro creram, por
muitos meses ou anos, até este dia.
16. Essa certeza de fé que
estes desfrutam exclui toda dúvida e medo. Exclui todos os tipos de dúvida e
medo sobre sua perseverança futura; embora não seja propriamente, como foi dito
antes, uma certeza do que é futuro, mas somente do que é agora. E esta não precisa para seu apoio uma crença
especulativa, que uma vez que alguém é ordenado à vida deve viver; pois ela é
trabalhada de hora em hora, pelo imenso poder de Deus, “pelo Espírito Santo que
lhes foi dado.” E por essa razão essa doutrina não é de Deus, pois ela tende a
obstruir, se não destruir, esta grande obra do Espírito Santo, de onde flui o
principal conforto da religião, a felicidade do Cristianismo.
17. Novamente: Quão desagradável pensamento é este, que milhares
e milhões de homens, sem qualquer ofensa ou falta precedente, foram
irremediavelmente condenados ao fogo eterno! Quão peculiarmente desagradável
deve ser para aqueles que têm confiado em Cristo! Para aqueles que, estando
cheios de entranhas de misericórdias, ternura, e compaixão, poderiam até
“desejar ser separados de Cristo, por amor de seus irmãos!”
18. Em quarto lugar. Esta desagradável doutrina diretamente
tende a destruir nosso zelo pelas boas obras. E isto ela faz, Primeiro, visto
que naturalmente tende (de acordo com o que foi observado antes) destruir nosso
amor pela maior parte da humanidade, a saber, os maus e os ingratos. Pois o que
quer que diminua nosso amor, deve também diminuir nosso desejo de lhes fazer o
bem. Isto ela faz, Segundo, visto que elimina um dos motivos mais fortes para
todos os atos de misericórdia material, como alimentar o faminto, vestir o nu,
e coisas semelhantes, – a saber, a esperança de salvar suas almas da morte.
Pois em que ajuda essa doutrina aliviar as necessidades temporais de quem está
caindo no fogo eterno? “Bem; mas corra e arrebata-os como brasas do fogo.” Não,
isto você supõe ser impossível. Eles foram apontados para lá, você diz, da
eternidade, antes que tivessem feito bem ou mal. Você crê que é da vontade de
Deus que eles morram. E “quem resiste à sua vontade?” Mas você diz que você não
sabe se estes são eleitos ou não. O que então? Se você sabe que eles são um ou
outro, – que eles são eleitos ou não eleitos, – todo seu trabalho é inútil e
vão. Em qualquer caso, seu conselho, repreensão, ou exortação é tão
desnecessário e inaproveitável quanto nossa pregação. É desnecessário para
aqueles que são eleitos; pois eles infalivelmente serão salvos sem ele. É
inaproveitável para aqueles que não são eleitos; pois com ou sem ele eles
infalivelmente serão condenados; por essa razão você não pode, consistentemente
com seus princípios, se esforçar pela salvação deles. Conseqüentemente, esses
princípios diretamente tendem a destruir seu zelo pelas boas obras; por todas
as boas obras; mas particularmente pela maior delas, salvar as almas da morte.
19. Mas, Quinto, esta doutrina não somente tende a destruir a
santidade cristã, a alegria, e as boas obras, mas tem também uma tendência
direta e manifesta de subverter toda a Revelação Cristã. O ponto que o mais
sábio dos modernos incrédulos mais diligentemente trabalha para provar é que a
Revelação Cristã não é necessária. Eles bem sabem que, pudessem uma vez
demonstrarem isto, a conclusão seria clara demais para ser negada, “Se não é
necessário, não é verdadeiro.” Agora, este ponto fundamental você abandona.
Pois, supondo o decreto eterno, imutável, uma parte da humanidade deve ser
salva, ainda que a Revelação Cristã não estivesse presente, e a outra parte da
humanidade deve ser condenada, apesar dessa Revelação. E o que um pagão
desejaria mais? Permitir tudo que ele pede. Ao fazer o evangelho desnecessário
para todos os tipos de homens, você abandona toda a causa cristã. “Não o
noticieis em Gate para que não exultem as filhas dos incircuncisos;” para que
não triunfem os filhos da incredulidade!
20. E como esta doutrina manifesta e diretamente tende a
subverter toda a Revelação Cristã, a mesma coisa ela faz, por evidente
conseqüência, ao fazer a Revelação contradizer-se. Pois ela está fundamentada
em tal interpretaçao de alguns textos (mais ou menos, isto não interessa) que
categoricamente contradiz todos os outros textos, e de fato toda a extensão e
tendência geral da Escritura. Por exemplo: Os defensores desta doutrina
interpretam esse texto da Escritura, “Amei a Jacó, e odiei a Esaú,” como
significando que Deus literalmente odiou a Esaú, e todos os reprovados, desde a
eternidade. Agora, o que pode possivelmente ser uma contradição mais clara do
que esta, não somente a toda a extensão e tendência geral da Escritura, mas
também a todos aqueles textos particulares que expressamente declaram, “Deus é
amor”? Novamente: Ele inferem desse texto, “Terei misericórdia de quem me
aprouver ter misericórdia,” (Rm 9.15) que Deus é amor somente a alguns homens,
a saber, os eleitos, e que ele tem misericórdia deles apenas; claramente
contrário à tendência geral da Escritura, como é aquela declaração expressa em
particular, “O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre
todas as suas obras.” (Sl 145.9) Novamente: Eles inferem desse e de outros
textos semelhantes, “Isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de
Deus que usa de misericórdia,” (Rm 9.16) que ele demonstra misericórdia somente
àqueles a quem ele tinha estimado desde toda eternidade. Não, mas quem a Deus
replica agora? Você agora contradiz todos os oráculos de Deus, que declaram
completamente, “Deus não faz acepção de pessoas;” (At 10.34) “Para com Deus não
há acepção de pessoas.” (Rm 2.11) Novamente: desse texto, “Não tendo os gêmeos
ainda nascido, nem praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a
eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama,
foi-lhe dito,” a Rebeca, “O maior servirá o menor;” você infere que ser
predestinado ou eleito de forma alguma depende do pré-conhecimento de Deus.
Claramente contrárias a isto são todas as escrituras; e essas em particular,
“Eleitos segundo a presciência de Deus Pai;” (1Pe 1.2) “Os que dantes conheceu,
também os predestinou.” (Rm 8.29)
21. E “o mesmo Senhor o é de todos, rico” em misericórdia “para
com todos os que o invocam:” (Rm 10.12:) Mas você diz, “Não; ele é assim
somente para aqueles por quem Cristo morreu. E esses não são todos, mas somente
alguns, que Deus escolheu do mundo; pois ele não morreu por todos, mas somente
por aqueles que foram ‘eleitos nele antes da fundação do mundo.’” (Ef 1.4.)
Completamente contrária à sua interpretação destas escrituras, também, está
toda a tendência do Novo Testamento; como são em particular esses textos: –
“Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu,” (Rm
14.15,) – uma clara prova de que Cristo morreu, não somente por aqueles que são
salvos, mas também por aqueles que perecem: Ele é “o Salvador do mundo;” (Jo
4.42;) Ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo;” (Jo 1.29;) “Ele
é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também
pelos de todo o mundo;” (1Jo 2.2;) “Ele,” o Deus vivo, “é o Salvador de todos
os homens;” (1Tm 4.10;) “O qual se deu a si mesmo em resgate por todos;” (1Tm
2.6;) “Ele provou a morte por todos.” (Hb 2.9)
22. Se você perguntar, “Então por que todos os homens não são
salvos?” toda a lei e o testemunho respondem, Primeiro, Não por causa de
qualquer decreto de Deus; nem porque é seu prazer que eles devessem morrer;
pois, “Vivo eu, diz o Senhor Deus,” “não tenho prazer na morte de ninguém.” (Ez
18.3, 32.) Qualquer que seja a causa de seu perecimento, não pode ser sua
vontade, se os oráculos de Deus forem verdadeiros; pois eles declaram, “O
Senhor não quer que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se;”
(2Pe 3.9;) “Ele quer que todos sejam salvos.” E eles, Segundo, declaram o que é
a causa de todos os homens não serem salvos, a saber, que eles não serão
salvos: Assim nosso Senhor expressamente, “Não quereis vir a mim para terdes
vida.” (Jo 5.40.) “O poder do Senhor estava com ele para curá-los,” mas eles
não serão curados. “Eles rejeitam o conselho,” o misericordioso conselho, “de
Deus contra si mesmos,” como fizeram seus obstinados antepassados. E por isso
eles são inexcusáveis; porque Deus salvá-los-ia, mas eles não serão salvos:
Esta é a condenação, “Quantas vezes quis eu ajuntá-los, e não o
quiseste!” (Mt 23.37.)
23. Dessa forma, manifestamente, esta doutrina tende a arruinar
toda a Revelação Cristã, fazendo-a contradizer-se; dando tal interpretação de
alguns textos que completamente contradiz todos os outros textos, e na verdade
todo o alvo e tendência da Escritura; – uma prova abundante de que não é de
Deus. Mas ainda não é tudo: Pois, Sétimo, é uma doutrina cheia de blasfêmia; de
tal grandeza que eu temo mencionar, mas que a honra de nosso gracioso Deus, e a
causa de sua verdade, não permitirá que eu fique em silêncio. Pela causa de
Deus, então, e de uma preocupação sincera pela glória de seu grande nome,
mencionarei algumas das horríveis blasfêmias contidas nesta horrível doutrina.
Mas, primeiro, devo alertar a todos que me ouvem, haja vista que irão responder
no grande dia, não me acusar (como alguns têm feito) de blasfemar por mencionar
a blasfêmia dos outros. E quanto mais vocês se ofendem com aqueles que assim
blasfemam, vejam que “confirmem o seu amor por eles:” mais, e que o desejo de
seu coração, e contínua oração a Deus, seja, “Pai, perdoa-lhes; porque eles não
sabem o que fazem!”
24. Isto estabelecido, deve ser
observado que esta doutrina representa nosso abençoado Senhor, “Jesus Cristo o
justo,” “o unigênito Filho do Pai, cheio de graça e verdade,” como um
hipócrita, um enganador, um mentiroso. Pois não pode ser negado que ele, em
todo o lugar, fala como se estivesse desejando que todos os homens sejam
salvos. Por isso, dizer que ele não estava desejando que todos os homens sejam
salvos é representá-lo como um mero hipócrita e dissimulador. Não pode ser
negado que as graciosas palavras que partiram de sua boca são repletas de
convites a todos os pecadores. Dizer, então, que ele não pretendia salvar todos
os pecadores é representá-lo como um flagrante enganador das pessoas. Ninguém
pode negar que ele diz, “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos.” Se, então, você diz que ele chama aqueles que não podem vir;
aqueles que ele sabe ser incapazes de vir; aqueles que ele pode capacitá-los a
vir, mas não os capacitará; como é possível descrever maior insinceridade? Você
o representa como zombando de suas criaturas abandonadas, oferecendo o que ele
nunca pretende dar. Você descreve-o como dizendo uma coisa e querendo dizer
outra; como fingindo o amor que não teve. Ele, em “cuja boca não se achou
engano,” você torna cheia de falsidade, de insinceridade; – então
especialmente, quando, aproximando-se da cidade, Ele chorou por ela, e disse,
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são
enviados! quantas vezes quis eu ajuntar
os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste;” καὶ οὐκ ἠθελήσατε.
Agora, se você disser, eles queriam,
mas ele não queria, você o representa (quem poderia ouvir?)
como chorando lágrimas de crocodilo; chorando sobre a presa que ele mesmo
condenou à destruição!
25. Que blasfêmia esta, como
alguém pensaria que poderia fazer tinir os ouvidos de um cristão! Mas ainda há
mais coisas por trás; pois como ela honra o Filho, da mesma forma esta doutrina
honra o Pai. Ela destrói todos seus atributos de uma só vez: Ela destrói sua
justiça, misericórdia, e verdade; sim, ela representa o mais santo Deus como
pior do que o diabo, como mais falso, mais cruel, e mais injusto. Mais falso; porque o diabo, mentiroso como é, nunca disse
que “deseja que todos os homens sejam salvos:” Mais injusto; porque o diabo não pode, se quisesse, ser
culpado de tal injustiça que você atribui a Deus, quando diz que Deus condenou
milhões de almas ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, por
continuarem no pecado, que, por falta daquela graça que ele não lhes dará, eles não podem evitar: E
mais cruel; porque esse espírito infeliz “busca repouso e
não encontra nenhum;” para que sua própria miséria impaciente seja uma espécie
de tentação para que ele tente os outros. Mas Deus repousa em seu elevado e
santo lugar; de modo que supor que ele, de seu próprio impulso, de sua pura
vontade e prazer, feliz como ele é, condenar suas criaturas, se desejam ou não,
à miséria sem fim, é atribuir tamanha crueldade a ele como não podemos atribuir
até mesmo ao grande inimigo de Deus e do homem. É representar o grande Deus
(aquele que tem ouvidos para ouvir ouça!) como mais cruel, falso, e injusto do
que o diabo!
26. Esta é a blasfêmia
claramente contida no decreto horrível da
predestinação! E aqui eu fixo meu pé. Sobre isto eu discuto a opinião de quem a
afirme. Você representa Deus como pior do que o diabo; mais falso, mais cruel,
mais injusto. Mas você diz que irá prová-la pela escritura. Espere! O que você
irá provar pela Escritura? Que Deus é pior do que o diabo? Não pode ser. O que
quer que a Escritura prove, ela nunca prova isto; qualquer que seja seu
verdadeiro significado, este não pode sê-lo. Você quer saber, “Qual é seu
verdadeiro significado então?” Se eu disser, “Eu não sei,” você não ganhou
nada; pois há muitas escrituras que o verdadeiro sentido delas nem você nem eu
saberá até que a morte seja tragada na vitória. Mas de uma coisa eu sei, melhor
fosse dizer que não tivesse sentido nenhum do que dizer que tem tal sentido
como este. Não pode significar, o que quer que signifique, que o Deus da verdade
seja um mentiroso. Não pode significar que o Juiz de todo o mundo seja injusto.
Nenhuma escritura pode signifcar que Deus não seja amor, ou que sua
misericórdia não seja sobre todas as suas obras; isto é, o que quer que ela
prova, nenhuma escritura pode provar a predestinação.
27. Esta é a blasfêmia pela qual (apesar de amar as pessoas que
a afirmam) eu abomino a doutrina da predestinação, uma doutrina, sob a
suposição de que, se alguém pudesse possivelmente supô-la por um instante,
(chame-a eleição, reprovação, ou o que quiser, pois dá tudo na mesma,) alguém
poderia dizer ao nosso adversário, o diabo, “Seu idiota, por que você continua
rugindo? Sua espera por almas é tão desnecessária e inútil quanto nossa
pregação. Não está sabendo que Deus tirou o trabalho de suas mãos; e que ele
faz isto muito mais eficientemente? Você, com todos os seus principados e
potestades, pode somente atacar que podemos resistir a você; mas Ele pode
irresistivelmente destruir corpo e alma no inferno! Você pode apenas incitar;
mas seus imutáveis decretos, para deixar milhares de almas na morte, compele-os
a continuar no pecado, até que desçam às profundezas do fogo eterno. Você
tenta; Ele nos força a ser condenados; pois não podemos resistir sua vontade.
Seu tolo, por que anda em derredor, buscando a quem possa tragar? Não ouviu que
Deus é o leão devorador, o destruidor das almas, o assassino dos homens?
Moloque fazia somente as crianças passarem pelo fogo: e aquele fogo logo foi
extinto; ou, o corpo corruptível sendo consumido, seu tormento acabava; mas
Deus, fique sabendo, por seu eterno decreto, fixado antes que eles fizessem bem
ou mal, causa, não somente que crianças pequeninas, mas que os pais também,
passem pelo fogo do inferno, o ‘fogo que nunca se apaga;’ e o corpo que é para
lá lançado, sendo agora incorruptível e imortal, estará sempre consumindo mas
nunca será consumido, mas ‘a fumaça de seu tormento,’ porque foi do beneplácito
de Sua vontade, ‘sobe para todo o sempre.’”
28. Ó, como iria se regozijar o inimigo de Deus e do homem ao
ouvir que estas coisas foram assim! Como ele gritaria alto, com toda a sua
força! Como ele levantaria sua voz e diria, “Às suas tendas, Ó Israel! Fugi da
face deste Deus, ou completamente perecereis! Mas para onde fugireis? Para o
céu? Ele está lá. Para o inferno? Ele também está lá. Vós não podeis fugir de
um tirano onipresente e todo-poderoso. E para onde fugirdes ou ficardes, eu
chamarei o céu, seu trono, e a terra, o escabelo de seus pés, para testemunhar
contra vós, e perecereis e morrereis eternamente. Cante, Ó inferno, e
regozijeis, vós que estais debaixo da terra! Pois Deus, o próprio Deus
todo-poderoso, tem falado, e condenado à morte milhares de almas, do nascer ao
pôr do sol! Aqui, Ó morte, o seu aguilhão! Eles não fugirão nem podem fugir;
pois a boca do Senhor tem falado. Aqui, Ó sepultura, sua vitória. Nações ainda
não nascidas, antes de terem feito bem ou mal estão destinadas a nunca ver a
luz da vida, mas tu irás consumi-las para todo sempre! Deixais todas as
estrelas da manhã cantarem juntas, que caíram com Lúcifer, filho da manhã!
Deixais todos os filhos do inferno exultarem de alegria! Pois o decreto já foi
feito, e quem poderá anulá-lo?”
29. Sim, o decreto já foi feito; e aconteceu antes da fundação
do mundo. Mas que decreto? Certamente este: “Eu colocarei diante dos filhos dos
homens ‘a vida e a morte, a benção e a maldição.’ E a alma que escolher a vida
viverá, assim como a alma que escolher a morte morrerá.” Este decreto pelo qual
“os que dantes conheceu, também os predestinou,” foi de fato desde a
eternidade; este, pelo qual todos que permitem Cristo vivificá-los são “eleitos
segundo a presciência de Deus Pai,” agora resistem, assim como a lua, e como as
testemunhas fiéis no céu; e quando o céu e a terra passar, todavia isto não
passará; pois é tão imutável e eterno quanto o ser de Deus que o deu. Este
decreto produz o mais vigoroso encorajamento para abundar em todas as boas
obras e em toda santidade; e é uma fonte de júbilo, de felicidade também, para
nosso bem-estar maior e eterno. Isto é digno de Deus; é de todas as formas
consistente com todas as perfeições de sua natureza. Nos dá a concepção mais
nobre de sua justiça, misericórdia, e verdade. Com isto concorda toda a
extensão da Revelação Cristã, assim como todas as suas partes. Tem o testemunho
de Moisés e de todos os profetas, e de nosso abençoado Senhor e de todos os
seus apóstolos. Assim Moisés, em nome de seu Senhor: “O céu e a terra tomo hoje
por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção
e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.”
Assim Ezequiel: (para citar um profeta por todos:) “A alma que pecar, essa
morrerá; o filho não levará” eternamente, “a iniquidade do pai. A justiça do
justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.” (Ez 18.20)
Assim nosso abençoado Senhor: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba.” (Jo
7.37.) Assim seu grande apóstolo, São Paulo: (At 17.30:) “Deus manda agora que
todos os homens em todo lugar se arrependam;” – “todos os homens em todo
lugar;” todo homem em qualquer lugar, sem exceção de lugar ou pessoa. Assim São
Tiago: “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada.” (Tg 1.5.) Assim São Pedro: (2Pe
3.9:) “O Senhor não quer que ninguém se perca, senão que todos venham a
arrepender-se.” E assim São João: “Se alguém pecar, temos um Advogado para com
o Pai; e ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos,
mas também pelos de todo o mundo.” (1Jo 2.1-2.)
30. Ouçam vocês isto, vocês que se esquecem de Deus! Vocês não
podem atribuir sua morte a ele! “‘Tenho eu algum prazer na morte do ímpio?’ diz
o Senhor Deus.” (Ez 18.23ff.) “Vinde, e convertei-vos de todas as vossas transgressões,
para que a iniqüidade não vos leve à perdição. Lançai de vós todas as vossas
transgressões que cometestes contra mim, – pois, por que morrereis, ó casa de
Israel? Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus;
convertei-vos, pois, e vivei.” “Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho
prazer na morte do ímpio. – Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus
caminhos; pois, por que morrereis, ó casa de Israel?” (Ez 33.11.)
Autor: J. Wesley – Pregado em Bristol.
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